Qual a cadeira mais segura do mercado?
Não é possível dizer qual é a cadeira mais segura para transportar uma criança num automóvel, já que a sua proteção depende de inúmeros fatores – a orientação da cadeira, a idade da criança, a correta instalação no carro, o ajuste adequado do cinto interno (no caso das cadeiras com arnês), e isto só para falar dos aspetos relacionados com a cadeira em si; porque há muitos outros, relacionados com a velocidade e características do acidente, assim como, com o próprio veículo.
É por esta razão que afirmações como: “a melhor cadeira para o seu bebé”, “a cadeira mais segura do mercado”, “cadeiras testadas pelo Plus Test são mais seguras”, não são afirmações sérias.
Independentemente dos bons resultados que um determinado sistema de retenção para crianças obtenha num determinado teste, pode não ser a melhor solução para a sua criança, a sua família ou o seu automóvel. Para além disso, por melhor que seja a classificação num determinado teste, a eficácia e nível de proteção dependem grandemente da correta instalação no automóvel e da colocação adequada dos cintos (arnês ou cinto de segurança, dependendo do sistema de retenção) sobre o corpo da criança.
Há ainda a considerar o facto de que, à exceção dos testes que são realizados para obtenção da homologação do sistema de retenção para crianças de acordo com o Regulamento 129, o mais recente e mais atual, todos os restantes são voluntários e o facto de um sistema de retenção não os apresentar no seu portfólio não quer, necessariamente, dizer que não oferece a mesma segurança.
Dito isto, importa, porém, reconhecer que estes testes voluntários avaliam as cadeiras, relativamente a alguns parâmetros, acima dos mínimos (em termos de velocidade e força em determinadas partes do corpo, por exemplo) definidos pelo Regulamento R129, que estabelece os requisitos de segurança obrigatórios para os sistemas de retenção para crianças.
É importante conhecermos o que avaliam e o significado da classificação obtida, sendo certo que a melhor escolha para a nossa criança nunca pode assentar exclusivamente no resultado num destes testes, de forma isolada.
A avaliação de sistemas de retenção para crianças mais completa é a que é feita pelo programa europeu ETC (European Testing Consort) constituído por um consórcio de organizações de consumidores e clubes de automóveis. Este programa, desenvolvido conjuntamente desde 2003, é completamente independente, sendo as cadeiras selecionadas, anonimamente, do mercado sem intervenção dos fabricantes.
Os sistemas de retenção são testados considerando diferentes parâmetros que contribuem, embora com pesos distintos, para a sua classificação final (Muito Bom, Bom, Satisfatório, Suficiente, Insuficiente).
São quatro os parâmetros avaliados:
a) segurança, através da realização de testes de colisão frontal e lateral, com velocidade superior ao previsto no R129, entre outros aspetos como a estabilidade da cadeira e percurso do cinto de segurança;
b) facilidade de utilização testada em três automóveis de diferentes tipologias, com a intenção de perceber o risco de incorreta instalação no carro e/ou colocação da criança na cadeira; este parâmetro inclui também a análise do livro de instruções do sistema de retenção, assim como, aspetos relacionados com os acabamentos e limpeza;
c) ergonomia, igualmente avaliada em 3 tipos de veículos, e que verifica o espaço disponível para a criança, para a instalação do sistema de retenção, a posição em que a criança fica sentada e o seu conforto e, por fim
d) a avaliação da presença de substâncias potencialmente tóxicas nos componentes do sistema de retenção que podem entrar em contacto com a criança, nomeadamente, os têxteis.
Os resultados são publicados por mais de 30 organizações europeias, nem sempre da mesma forma, sendo que em alguns casos as organizações apenas permitem a sua consulta a sócios ou subscritores. No site da ADAC (Clube Automóvel da Alemanha) e do RACE (Clube Automóvel de Espanha) é possível consultar os resultados na íntegra.
Já o Plus Test — feito pelo Swedish National Road and Transport Research Institute (VTI), um instituto sueco de investigação no setor dos transportes — avalia a proteção do pescoço da criança num choque frontal a 56km/h e destina-se exclusivamente a sistemas de retenção para crianças voltados para trás. Tem como intenção averiguar se determinada cadeira passa (ou não passa) um teste desenvolvido especificamente para medir a força gerada no pescoço, num embate frontal. Este é feito a uma velocidade e com uma desaceleração superiores aos definidos no R 129, para este tipo de embate. As cadeiras que passam este teste podem ostentar um selo Plus Test.
É um teste requerido e pago pelas marcas que têm especial interesse em promover o transporte de costas para o sentido da marcha até o mais tarde possível e/ou em diferenciar-se relativamente a outros fabricantes de sistemas de retenção para crianças.
Considerando a reconhecida e comprovada proteção elevada que o transporte virado para trás confere, é um ótimo indicador uma cadeira possuir um selo Plus Test, mas é abusivo dizer que as cadeiras com Plus Test são mais seguras que as que não o têm, uma vez que nem todas são testadas. Mais interessante seria conhecer a lista das cadeiras que foram testadas e que chumbaram no Plus Test!
Há que ter em conta, além disso, que este teste não avalia a facilidade e o espaço necessário para a instalação das cadeiras no automóvel, que, em alguns casos, são bastante volumosas e possuem um certo grau de dificuldade na sua instalação (é importante relembrar que uma cadeira mal instalada, logo à partida, compromete a eficácia da proteção pretendida).
Em suma, apesar destes testes e classificações terem como objetivo ajudar as famílias a escolher um sistema de retenção para os seus filhos e a obter a maior proteção possível quando estes são transportados no carro, a situação de cada família e de cada criança é única e específica, e a melhor solução, ou a escolha “certa” para uns, não é, objetivamente, a mesma para outra família ou criança, e muito menos, o resultado do desempenho num determinado teste.
Depois de confirmada a homologação da cadeira, que deve ser de acordo com o Regulamento R 129, e analisados os resultados nestes testes voluntários, é essencial experimentar a cadeira nos automóveis onde vai ser usada, verificar a sua facilidade de instalação e adequação à criança em causa e ao espaço disponível.
Por fim, uma nota para alguma informação partilhada nas redes sociais: muitas vezes não passam de opiniões pessoais baseadas em experiências e necessidades particulares. A escolha de um sistema de retenção para o transporte dos nossos filhos deve ser uma decisão bem informada, muito ponderada e pessoal.
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